quinta-feira, 4 de julho de 2013

Eu não vou quebrar

Coisa que mais odeio é ser tratada diferente só porque tive câncer. Certo tenho limitações, apesar de não ter removido nem um pedaço do pulmão por causa da radioterapia o direito é todo fibrosado, não é como um pulmão normal, mas nada que me impeça de ser normal sou apenas mais lenta que as outras pessoas.
Duas coisas me irritam, se olham para mim e sem saber da minha história me julgam pela minha aparência (tipo tão novinha e já não consegue fazer nada) e sabendo da minha história me classificam como incapaz. Um guia turístico conseguiu fazer os dois em 5 minutos. Fomos fazer um passeio na serra da Bocaina e como era subida eu sofro um pouco mais. O guia teve a infelicidade de comentar que a avó dele estava em melhor forma física do que eu. Fernanda, minha filha de 11 anos com a normalidade de quem vive isto desde os 4 anos de idade falou que era porque eu tinha tido câncer de pulmão. Pra que, o homem ficou doido começou a me chamar de senhora, perguntar se eu queria descansar, dizer que a caminhada era puxada, falar que era para eu não ir até a cachoeira porque teria que descer 300 metros numa escada muito inclinada. Quanto mais ele falava mais irritada eu ficava.
Desnecessário eu falar que fui até o fim do passeio. É claro que para baixo todo santo ajuda, na hora de subir comecei antes de todo mundo, a Vanessa, minha filha mais velha veio comigo, ela sabia que estava de saco cheio daquele cara e que seria difícil para mim.
Estou curada. Se falo para uma pessoa que tive câncer isto já é suficiente para que ela saiba que tenho o meu próprio limite, não precisa ficar me dizendo o que fazer. Não vou quebrar.
Inclusive já vi pessoas que não largam a doença porque não recebiam atenção e quando ficaram doentes foram cobertas de carinho e se sentiram melhores doentes. Na psicologia isto tem um nome que eu esqueci. Este é um grande perigo, os pacientes morrem felizes, morrem se sentindo amados.

Eu recebia muito mais atenção doente do que agora, meu marido é mais namorado quando eu estou doente, o que é uma raridade. Mas eu sei muito bem o quanto eu sofri todos estes anos, então eu prefiro comemorar estar saudável e bem, muito, muito bem. 

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