Não era para ter sido
agora, acabara de completar 18 anos, era cheio de vida e trazia alegria por
onde passava, apesar de seus problemas, ser meio agressivo, se envolver com
meninos que podem ser classificados como estranhos e por ai vai. Passava do
limite de querer se divertir, nunca parecia estar satisfeito, sempre queria
mais e parece que ai foi o erro.
Foi com esta notícia que
minha filha de 16 anos me recebeu ontem, com o anúncio da morte de um amigo,
que tinha tido um acidente bobo de moto, caído e batido no meio fio. Ela que
como toda adolescente se acha eterna e repete sempre que nada vai acontecer, pela primeira vez se virou para mim e se confessou estar se sentindo
vulnerável.
Minha casa em época de
férias é sempre um entre e sai de adolescente, um bando de gente que me chama
de tia porque é muito mais fácil do que aprender meu nome. Eles postam fotos no
instagram e mandam mensagem no whatsapp o tempo todo, mas ontem foi diferente,
não tinha foto de caretas, não tinha armação de saída e coisas do tipo, só como
iriam até ao cemitério, um querendo dar apoio ao outro e me fez lembrar Ernest
Hemingway autor de POR QUEM OS SINOS
DOBRAM com a inspiração que teve do poeta inglês John Donne que escreveu “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula
do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a
Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos
teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou
parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles
dobram por ti”. Naquela hora aqueles
jovens viam a imortalidade deles morrendo, eles agiam como uma massa única, um só
pensamento, uma única dor.
Hoje este grupo de jovens, que nós adultos acusamos
de desanimados, folgados e sem iniciativa, se mobilizou, arrumou carona, alugou
van e todos deixaram suas casas na Barra da Tijuca para darem o último adeus a
seu amigo no cemitério em Sulacap. Foi sofrido para eles. Pensavam que isto só
acontecia com gente velha (se bem que para eles eu com 45 anos sou para lá de
velha).
E em todo este turbilhão só estamos falando dos
jovens e me vem à cabeça a mãe, já que o tempo todo as lágrimas me vem aos
olhos porque me coloco no lugar dela. Nascemos primeiro e devemos morrer
primeiro, não é natural um filho que morre antes de uma mãe. Não quero e não
posso julga-la se deveria ter feito algo para evitar o que aconteceu. Só posso
dizer que este pensamento de que o tempo cura tudo, para mim, neste caso não
funciona. Não há cura para a perda de um filho, me lembra a música do Chico
Buarque
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Hoje foi um dia de
aprendizagem, dizem que se não aprendemos no amor aprendemos na dor. Foi com
muita dor.
Elias que Deus te receba
de braços abertos.
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