terça-feira, 16 de julho de 2013

Morte Antecipada

Não era para ter sido agora, acabara de completar 18 anos, era cheio de vida e trazia alegria por onde passava, apesar de seus problemas, ser meio agressivo, se envolver com meninos que podem ser classificados como estranhos e por ai vai. Passava do limite de querer se divertir, nunca parecia estar satisfeito, sempre queria mais e parece que ai foi o erro.

Foi com esta notícia que minha filha de 16 anos me recebeu ontem, com o anúncio da morte de um amigo, que tinha tido um acidente bobo de moto, caído e batido no meio fio. Ela que como toda adolescente se acha eterna e repete sempre que nada vai acontecer, pela primeira vez se virou para mim e se confessou estar se sentindo vulnerável.

Minha casa em época de férias é sempre um entre e sai de adolescente, um bando de gente que me chama de tia porque é muito mais fácil do que aprender meu nome. Eles postam fotos no instagram e mandam mensagem no whatsapp o tempo todo, mas ontem foi diferente, não tinha foto de caretas, não tinha armação de saída e coisas do tipo, só como iriam até ao cemitério, um querendo dar apoio ao outro e me fez lembrar Ernest Hemingway autor de POR QUEM OS SINOS DOBRAM com a inspiração que teve do poeta inglês John Donne que escreveu “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.  Naquela hora aqueles jovens viam a imortalidade deles morrendo, eles agiam como uma massa única, um só pensamento, uma única dor.

Hoje este grupo de jovens, que nós adultos acusamos de desanimados, folgados e sem iniciativa, se mobilizou, arrumou carona, alugou van e todos deixaram suas casas na Barra da Tijuca para darem o último adeus a seu amigo no cemitério em Sulacap. Foi sofrido para eles. Pensavam que isto só acontecia com gente velha (se bem que para eles eu com 45 anos sou para lá de velha).

E em todo este turbilhão só estamos falando dos jovens e me vem à cabeça a mãe, já que o tempo todo as lágrimas me vem aos olhos porque me coloco no lugar dela. Nascemos primeiro e devemos morrer primeiro, não é natural um filho que morre antes de uma mãe. Não quero e não posso julga-la se deveria ter feito algo para evitar o que aconteceu. Só posso dizer que este pensamento de que o tempo cura tudo, para mim, neste caso não funciona. Não há cura para a perda de um filho, me lembra a música do Chico Buarque
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Hoje foi um dia de aprendizagem, dizem que se não aprendemos no amor aprendemos na dor. Foi com muita dor.


Elias que Deus te receba de braços abertos.

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